"ÉTICA PESSOAL" + CHÁZINHO PARA LEIGOS E CÉTICOS
De tempos a tempos, vejo-me numa posição peculiar no que diz respeito a recomendações, e por estar já um bocado farta disso, passo a anotar o que penso e faço, para depois poder arquivar (pelo menos, o "Capítulo LinkedIn"):
1. Peço (e dou) recomendações a contactos profissionais e
pessoais com frequência, normalmente através do LinkedIn.
As
referências são importantes aqui na Inglaterra, e eu uso muito o LinkedIn, até
porque (também) trabalho com redes sociais. Comentar o percurso profissional e
académico de alguém ajuda a credibilizar e legitimar esse percurso, aos olhos
de quem (ainda) não conhece o trabalho da pessoa em causa. Entendo que alguns
"continentais" possam ser mais agarrados às recomentações e não
gostem de as distribuir publicamente, talvez porque dizer bem de alguém não
seja uma pratica muito corrente por aí; mas deixemos de parte as justificações
baseadas em clichés e preconceitos nos quais não me revejo, e limitemo-nos ao
que "é".
2.
Normalmente envio um pedido standard, o que
me parece um procedimento adequado na rede (facilita a leitura do pedido, o
processamento da recomendação e a criação de uma recomendação reflexa).
Dependendo
das definições de privacidade, as recomendações no LinkedIn são públicas e
autosuficientes. Questões legítimas - como a finalidade da recomendação, e
a necessidade de estar disponível para contacto de confirmação de referências -
são pertinentes fora do LinkedIn, porque nessa rede, em princípio, as
recomendações dizem respeito a uma função desempenhada, mas são dirigidas ao
público em geral, servindo para ajudar a credibilizar o perfil da pessoa
recomendada. No LinkedIn não há normalmente lugar a contactos de terceiros para confirmação de referências, por causa de recomendações escritas.
3.
Atenção: recomendar alguém com base em experiências curtas ou pontuais é tão
relevante quanto por longos periodos de trabalho, principalmente nos tempos que
correm.
Obviamente
o conteudo da recomendação adequar-se-á e será diferente se disser
respeito a 10 anos de trabalho, a um projecto pontual (como um workshop ou uma
performance, por exemplo), a um trabalho curto, part-time ou temporário, a um livro ou a um
periodo de formação.
4. Por
um lado, obviamente aplica-se aqui o princípio de que
"se não tens nada de positivo
para dizer, não digas nada"; por outro lado, se o meu
contacto quiser ser especialmente elogioso, pode precisar de tempo e inspiração
para fazer a recomendação, e nesse caso, demorará a responder.
No meio
(como a virtude) estão os contactos que simplesmente respondem e
recomendam logo, ou então pedem ajuda para o fazer, para já não falar dos "anjos"
que recomendam espontaneamente. Confesso que eu própria levo o meu tempo a
escrever recomendações, mas sei muito bem o que é justo e verdadeiro de acordo
com a minha experiencia interpessoal, e quem faço questão de elogiar!
Mas
existem também aqueles contactos que não dizem nada ou dizem que "não
podem recomendar", tendo gozado, usado e (em alguns casos) abusado das
minhas competências, o que é triste, mas engraçado ao mesmo tempo.
Existem ainda os que dizem "ah, vou fazer a tua recomendação quando tiver mais tempo" e nunca chegam a escrever nada, porque na realidade se estão a marimbar (ou para mim, ou para o LinkedIn).
E eis que me apetece cantar "Tudo isto existe. Tudo isto é triste..." Mas não chega a ser fado.
[Continua]
Este texto foi publicado como Nota de Facebook e Guest Post no LinkedPortugal,
a 26 de Março de 2014.
[Continuação]
5. Com
elegância e cortesia, o LinkedIn convida a retribuir cada recomendação que
recebemos, mas ninguém é obrigado a recomendar ninguém. Haja bom senso e
assertividade!
Isto
faz-me lembrar a forma como as pessoas lidam com a palavra "amor" e o
verbo "amar": algumas pessoas não tocam nessa terminologia nem com
uma vara de 7 metros; outras pessoas usam-na a torto e a direito; quase todas
esperam que alguém a quem confessam o seu amor retribua o sentimento, mas isso
nem sempre é possível ou verdadeiro.
Pessoalmente,
recomendo quando tenho algo de suficientemente bom para escrever sobre alguém,
e oportunidade para o fazer (é algo que me faz sentir bem em rede). Não espero
para retribuir uma recomendação que eu própria tenha pedido.
Também
peço recomendações a pessoas sem as recomendar, até porque existem casos em que
não posso comentar nenhuma das funções listadas no perfil. Nesses casos, quando
viável e suficiente, fico-me pelos endorsements
- muitos deles também sugeridos pelo LinkedIn - ou então faço uma recomendação
para uma função ou escola ainda não listada no perfil da pessoa, o que pode ser
aceite ou não, por quem pretendo recomendar. E isto pode dever-se aos mais
diversos motivos, designadamente a uma utilização limitada do LinkedIn (as
redes sociais podem roubar tempo e de certa forma substituir a interação
face-a-face, o que não é necessariamente desejável).
6.
Compreendo e aceito diferentes níveis de timidez e reserva no LinkedIn, como
noutras redes.
E,
obviamente, gosto de ser respeitada nas redes, de acordo com o uso que faço
delas. Confesso que é agradável quando as pessoas que mais respeito, admiro e
quero elogiar, se revelam também acessíveis e simpáticas; já é estranho quando
alguém que conheço pessoalmente tem para comigo atitudes incoerentes em
diferentes redes sociais, mas a premissa desta alínea é "compreendo e
aceito."
7. No LinkedIn como
noutras redes, existem utilizadores de todos os tipos, dos frenéticos aos
completamente inativos, e até alguns já falecidos, que obviamente não podem
aceitar nem escrever recomendações.
Em certos
casos, uma tentativa de interação numa rede social demora anos a merecer
resposta, ou pura e simplesmente nunca chega a gerar qualquer tipo de aceitação
ou feedback.
Costuma
dizer-se que se os conselhos fossem bons, não se davam, vendiam-se (e há, de
facto, bons conselhos à venda por aí). Este meu conselho vale o que vale, mas
eu não resisto a passá-lo, completamente de graça: não percam a oportunidade de
dizer "obrigada" ou "bom trabalho".
FIM
Texto também publicado como Guest Post no LinkedPortugal, no dia 29 de Março.
Muito Obrigada, Pedro Camanez!