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segunda-feira, setembro 25, 2006

Ambientalismo Cultural


Permitam-me que escreva um pouco mais do que o habitual, em jeito de penitencia pelos meus períodos de afastamento da blogosfera desde Maio. E permitam-me também que vos escreva “lá de fora”, para variar. Prometo não me afastar muitas mais vezes das boas novas deste delicioso país, jardim à beira mar plantado, que até o mar quer engolir!
É em parte esta gula oceânica que hoje me leva a postar...

A edição portuguesa da revista National Geographic deste mês chamou-me a atenção pelo artigo “Um Tom de Verde Mais Escuro”. Foi escrito por Bill Mackidden, ensaísta e activista ambiental norte-americano, autor de “O Fim da Natureza”.
O artigo agora publicado na “nossa” National Geographic, percorre algumas descobertas recentes no capítulo do aquecimento global, e aponta o ambientalismo cultural como estratégia de contenção deste fenómeno. Segundo Mackibben, «temos dez anos para inverter o rumo dos acontecimentos. Não é na vida dos nossos filhos, nem dos nossos netos. É na nossa.»

As alterações climáticas chegaram às salas de cinema com Uma verdade inconveniente, filme que antecipa a descaracterização do nosso planeta e que nos coloca face a face com um cenário iminente, que está estudado, que está previsto e que é perfeitamente aterrador.
Em 2005 (ano que Mackibben aponta como marco histórico, a partir do qual a negação deixou de fazer sentido), a revista Nature divulgou um ensaio que demonstrava o aumento da intensidade e duração dos furacões no espaço de tempo de uma geração. O responsável por esta demonstração foi um investigador do Massachusetts Institute of Technology (MIT), chamado Kerry Emanuel.

No inicio deste ano, James Lovelock, inventor do instrumento que é usado para medir a diminuição da camada de ozono, declarou que o aquecimento global já é inevitável e 2005 foi mesmo apontado pela NASA como o ano mais quente de que há registo.
Alguns meses depois, James Hansen (NASA) contornou as pressões federais de que era alvo no sentido do silenciamento, e propalou despudoradamente que «não podemos deixar que a instabilidade da plataforma de gelo da Gronelândia se mantenha por mais dez anos». O prazo parece estar definitivamente estabelecido.

Como podemos travar as alterações climáticas, nesta década em que vivemos? O único caminho é a redução das emissões de dióxido de carbono (CO2) que já estão a provocar as mutações meteorológicas, responsáveis pela transformação da face da Terra, tal como (ainda) a conhecemos.

Bill Mckibben aponta os Estados Unidos da América (EUA) como berço do ambientalismo. A Europa terá começado a devastar florestas antes do “tempo dos escritores”, mas na América, Henry David Thoreau e George Perkins puderam testemunhar, difundir e registar para a posterioridade o confronto entre o Homem e a Natureza, no domínio de bosques e pradarias.
Muitos assumiram uma atitude saudosista e procuram refúgio em parques e zonas menos industrializadas, mas muitos outros (como Rachel Carson) lutaram contra os efeitos secundários da modernidade e pela aprovação de diplomas legais de protecção ambiental.

Mas na batalha contra o aquecimento global, o ambientalismo falhou. A resistência e a luta dos activistas não são as armas adequadas. Impõe-se agora uma modificação mais generalizada – paradigmática mesmo – ao nível dos nossos modelos de atitude e decisão. Impõe-se uma mudança da nossa identidade social e dos nossos desejos. Não por idealismo, ascetismo ou nostalgia, mas por pragmatismo.

No quadro actual, o cálculo das vantagens económicas do nosso estilo vida e das actividades que prosseguimos tem de ser complementado (quando não substituído) por um outro tipo cálculo: será que, ao agir desta ou daquela forma, estou a aumentar a emissão de CO2 para a atmosfera? Se adoptarmos este raciocínio, certamente iremos:
  • Preferir alimentos locais e de época, mesmo que não possamos comprar directamente aos nossos pescadores o peixe que eles pescam nas nossas águas (convenhamos: o transporte de uma caloria que seja, de uma região para outra, implica o consumo de uma quantidade muito superior de energia);
  • Reduzir a dimensão e, consequentemente, as necessidades de aquecimento e manutenção das nossas casas, que em muitos casos têm hoje o dobro do tamanho de há cinquenta anos atrás, apesar do número de pessoas por lar ter diminuído;
  • Mudar-nos para mais perto do centro das cidades, para podermos ir e vir do trabalho de transportes públicos ou bicicleta (uma alternativa muito útil, em caso de greve dos trabalhadores do Metro!).

Deixo-vos algumas palavras do próprio Mckibben. Apelam para a cultura norte-americana, é certo, mas estou certa de servem a muitos de nós como uma luva! Para deter o aquecimento do planeta:

«Seria preciso, penso eu, um movimento que encarasse a sério as aspirações das pessoas no sentido de terem vidas seguras e duradouras. Que tentasse satisfazer esses desejos ainda mais do que a economia consumista o fez. Precisaríamos de uma espécie de ambientalismo cultural que levantasse questões mais profundas do que aquelas que estamos habituados a levantar.
Profundas como? Eis uma informação tão interessante como o acentuado aumento da temperatura planetária. E igualmente deprimente. Desde que os investigadores iniciaram as sondagens de contentamento social, nos anos que se seguiram à Primeira Grande Guerra, a percentagem de americanos que se consideram “muito felizes” com a vida mantém-se igual, ainda que o nível de vida material tenha praticamente triplicado durante o mesmo período. O facto de termos mais coisas não está a azer-nos mais felizes, mas não conseguimos quebrar o ciclo que nos oferece mais coisas como o nosso único objectivo real. O que desejamos realmente, segundo os economistas e psicólogos que realizam estes estudos, é mais comunidade. A teoria da economia assegurou-nos há muito que os nossos desejos são insaciáveis […], mas cada vez mais se sente que o nosso maior desejo é o de contacto com outras pessoas. Construímos a sociedade mais hiperindividualizada que o mundo alguma vez viu […]. [E] isto contribuiu para o grande êxito na nossa economia; cada um ergue-se e cai à custa do seu esforço pessoal, o que constitui uma força motivadora. Mas contribuiu também para a tal crescente sensação de insatisfação e para a nuvem de dióxido de carbono.
Se toda a gente for de carro para todo o lado (o maior carro possível para maximizar a segurança pessoal), será difícil reduzir as emissões. Se a nossa ideia de paraíso continuar a ser uma casa de 370 m2 num lote isolado, é difícil imaginar uma mudança realmente rápida.»

--

Nota de 28/09/2006: "Descobri" que a Carolina Almeida escreveu e transcreveu partes deste mesmo artigo há 8 dias atrás. Em boa hora!

1Comentários

à s 6:58 da tarde, Blogger Carolina Almeida disse...

Esta acaso engraçado vem demonstrar que não estamos sós quando nos preocupamos com o nosso futuro e com o da nossa terra.

Beijinho

Carolina Almeida

 

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